Viver sem cor ...

... e Jordan continuou meneando, com seu pensamento distante e transeunte. Ao dar suntuosos passos, a rua perdendo a maratona diária, se entristecia e ficava deserta. Atravessou... ao menos olhou para trás. Perdida em devaneios, Cléo o seguia à distância assisadamente. Impressionava-se com o seu jeito de fitar os próprios pés e o modo como a calçada o conduzia sem medo do ponto final. Cléo o decorava com o olhar... Deleitou-se em sonhos despertos e imaginou um longo abraço. Logo se entorpeceu; o arrepio que sentira foi a injeção de heroína que tanto precisava. Há muito estava solitária... o lugar onde residia não era tão fascinante como outrora. Cansara das mesmices... das cores brancas e azuis; assim o avistou do alto e decidiu à terra regressar. Lá estava ele, perfectível, com aquela propensão que Cléo tentava exprimir por meio de palavras, porém as mesmas se aprisionavam em sua boca. Assim, mendazmente, fez-se amiga do silêncio e da observação minuciosa. Quem ao lado dele passava, de imediato sorria, sem tergiversas ou motivos. O que fazia tal reação surgir? Seria o fato de Jordan não se encaixar nos paradigmas? Não seguir os mesmos valores da sociedade, desviando seus atos de seu papel específico na perspectiva funcional? Seria seu jeito galante ou lídimo? Ou apenas sua própria existência? E Cléo pertinou com o seu “estudo” sem pressa. Sua vestimenta, que lhe aferia certa jactância, trazia cor na paisagem cinza e iridescia ... Adultos e crianças, tentavam descobrir da estampa da camisa, de onde seriam os personagens ou ícones. Ele fazia de propósito! Cléo sabia disso. Até que ele virou-se. Num súbito, ela parou e levou as mãos ao rosto, depauperada. Engoliu seco... O coração parou... Transpirou como há bastante tempo não acontecia... Sentiu as pernas bambearem e caiu. A dor nas costas voltou de leve... seus olhos arderam quando avistou Jordan sem atavios sorrindo com ar de reciprocidade... “isso não é possível”, pensou a mesma; sentiu seu glóbulo saltar... Ele entrou no ônibus. Ela por sua vez ergueu-se, afinal a esperavam do outro lado. A respiração ainda ofegante, pulsação à mil. Fechou os olhos e sentiu-se no ar... ao mesmo tempo uma lágrima doce escorreu pelo seu rosto. Já não voou descompassada, estava com o coração bem ancorado. Em silêncio retornou ao seu cotidiano. Nem desesperada, nem triste... satisfeita por ter chegado tão perto do “periastro” uma única vez. Enquanto isso, em pé no ônibus lotado, Jordan sorri com a imagem da linda moça que desaparecera em segundos. Era perspícua a idéia de um delírio em sua mente. Passado o ponto, desceu. Nem tão pávido, nem feliz... apenas aliviado; e não se denotava o porquê...