Nua...



Segunda-feira, dia 26 de outubro de 1994 [2:30 AM]
Relampeja do lado de fora, e Cléo está do lado de dentro, nua , jogada ao chão de madeira, com os olhos abertos e uma poça de lágrimas ao redor de sua face. Suas costas doem, porém a dor física não é comparável à dor interna e confusa que deveras sente. Ela se levanta, e vai despida à porta de seu apartamento. Cléo... a mulher “inatingível”, agora se via perdida em memórias e entorpecentes. Sua família, pudica e rica, a fizera viver uma realidade que não era a dela. Então sua única saída era renascer... só não sabia como.
Cléo Zeltzer... um nome importante na classe onde redizia. Contudo, sem significado pra a mesma. Sempre andara olhando para os pés, com medo das pessoas perceberem o quanto solitária e triste era, num simples olhar.
A chave roda... e a maçaneta faz um barulho alertando que a porta estava se abrindo. Assim, saiu Cléo... despida, sem medo nem rodeios, às três e meia da manhã, pela escada mal iluminada do prédio. A única coisa que a cobre são seus longos cabelos negros, que contrastam com sua pele muito branca, quase fantasmagórica. Ela sobe até o décimo quinto andar, onde abre a portinha que dá acesso à cobertura. Porta essa, que sempre estivera trancada, porém hoje por ironia do destino, a convida docemente a entrar. O vento forte em seu rosto, faz seu corpo estremecer; e a água da chuva se mistura com suas lágrimas incontidas neste momento. Ela se equilibra na pequena mureta que separa o nada, do cimento... do intacto...
Pensa em sua família, sem na realidade saber o porque... ora por ela mesma... e quando um relâmpago desce do céu sumindo num segundo a leva consigo. Seu corpo vai descendo cada andar, suavemente enquanto seus olhos permanecem bem abertos.
Renascer...será que realmente renasceria?

Domingo, dia 25 de outubro de 1994 [ 05:30 AM]

O telefone toca e acorda todos da residência dos Zeltzer’s. A notícia vem como um baque para a família de Cléo, que segundo disseram, foi encontrada morta em seu apartamento, completamente nua e gélida... a história dela termina aqui.
Porém isto é para os que não “crêem no que não se pode ver” se é que me entendem. Pois naquela madrugada de segunda, em que se “jogara” do prédio, transformava-se num anjo à medida que descia...
Não acreditou que já havia morrido, e precisou voltar ao seu “refúgio”... se despir... deitar no chão de madeira, e sentir suas costas doerem pela segunda vez...
Isto, para constatar que realmente sua dor não era física, e sim reflexo do que estava por vir... o aparecimento de suas asas...



4 comentários:

  1. nossa é impressionante como seus posts emocionam a gente jhê

    a dor que trouxe mais dor que tarz o choro pela manhã que traz ainda mais dor
    cara a dor é uma escadaria sem fim e esse post me fez entender isso

    beijoo jhê ;*

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  2. (Para a surpresa de Cléo, ali do outro lado, dor já sumida, lhe agradavam as asas, mas surpreendiam-na todos e tantos presentes.. alguns cria já ter visto, outros eram de todo estranhos. Nenhum como ela. Ninguém igual. Alguns incompreensíveis.
    Eles a olhavam espectantes.. aos poucos tornavam-se mais familiares, quase uma família.. talvez a verdadeira..)
    - Como foi? (disse o mais próximo com olhos sorridentes..) Superou-se..
    (Cleo exitou sem ter certeza do que deveria responder..)
    - Ande menina, abra essas asas e nos conte tudo.. (Ele insistiu, enquanto os demais se aproximavam e iam por ali sentando..)

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  3. - É bom tê-la nos braços mais uma vez! (Cléo escutou ao pé do ouvido.. algo dentro dela gritava, enquanto seus peitos esmagavam-se ante o entusiasmo com que seu corpo encontrava o dele. Ele não estava nu, vestido apenas de asas.. não.. ele tinha sobre o corpo um longo manto, feito de tantas coisas que penavam os sentidos de Cléo para abarcar. Haviam dentes, lágrimas, cabelos, beijos, facões, flautas.. haviam dados, cálices e vinho a ligá-los.. um anel dourado, um dobrão de prata, um arpão enferrujado e uma mortalha de trevas, tudo não entalhado ou costurado, mas ungido e oscilando harmoniosamente ao sabor do vento..) - Não se preocupe com as palavras, minha velha.. elas aqui tem pouca monta. Não há linguagem que abarque o pulsar de suas sinapses.. então deixe que voem as pulsões e deixe que eu lamba suas asas... (falaram os olhos dele enquanto dançava neles as cores de forma caledoscópica..)

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  4. Salve salve Dona da Vez..
    Fico lisonjeado com os adjetivos entoados às minhas parcas semânticas e vos digo ter ficado deveras admirado com a vossa "falta de habilidade co as palavras".. creio que se a tivesse mais, figurarias além da compreensão de nós, vãos mortais.. assim sendo, fique certa que as portas de Pasárgada estão sempre abertas para seres de sua índole e sabedoria.. estou por lá sempre a esfumaçar o ambiente e aguardando boa companhia.. para proseios astutos ou mesmo papos furados..
    Mal sabes meus intentos de sempre encontrar o rastro de suas pegadas..
    Boas energias para as suas já radiantes cercanias..
    Beijos

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Conta pra mim, não conto pra ninguém...