Baús e Bolhas


Água. Sabão. Qualquer coisa que lembre um círculo.

Cá a pensar com meus botões sobre a existência humana no planeta terra, entendi o sentido timoneiro da frase "não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar". Ah... o que seria de mim sem o Paulinho da Viola e seu clichê refinadamente consagrado...
Bastou pensar que tudo estava linear e um sopro forte tratou de balançar minhas estruturas.
Na hora percebi que precisava viajar.
É claro que nessas viagens mentais ou estradeiras, sempre deixamos preciosos baús para trás. Dentro de tais... lembranças, beijos, fotografias, histórias, chororôs e risadas. Larguei família, deixei um grande amor e virei as costas pro emprego. Quando me perguntam o motivo, não consigo explicar. Creio que fui levada pela vontade pura, inocente e convincente de descobrir o mundo e porque não, eu mesma.
Claro que o término de um delicado e terno relacionamento também me impulsionou, pois no fundo no fundo, passar por determinadas ruas e lugares machucou demais o peito.
O 'até logo' cheio de lágrimas que dei ao Rio de Janeiro foi substituído pelo sorriso alegre de um Belo Horizonte. E que belo!
Com caixas de roupas e lembranças, desbravo a cada dia um canto novo. Seja o bar da esquina, a praça do Papa fria como ela só ou pequenos detalhes da casa que mais parece uma república.
Quando todos saem pra trabalhar, um espírito investigativo toma conta de mim e vou passeando pelos corredores à procura de cheiros, marquinhas de parede ou qualquer coisa que desperte necessárias sensações de aconchego.
Um dia chego lá.

Misture tudo e assopre devagar. Crie seu próprio arco íris.

Por enquanto... vivo de bebericos, mordiscos, procuras e análises; não exatamente na ordem colocada. Uma cachaça aqui, mais temperos acolá. Uma ressaca de samba e aquela entrevista de emprego no dia seguinte.
No final, um saldão com todas as coisas que aconteceram durante o dia. E é nesse saldo que me perco. Quando penso que sou louca por ter jogado tudo pra cima, aponto um lápis e depois que queimar a mufa com subtrações e adições, me acho novamente.
Depois de encontrar as respostas, apago tudo de novo e de novo. O que seria de mim, caso não me "perdesse" vez ou outra?
Contudo... existe algo que não quero perder. Nem vou. Em hipótese alguma!
Trata-se do amor e carinho que dediquei à um pajarito beliscador de tortas por tantos anos. Com olhos de amiga, irmã e companheira, tento acompanhar em sonho seu bater de asas rumo à Pedra da Gávea.
A neblina me deixa cega por instantes e o ar gelado se confunde com lágrimas pesadas. Passado o tempo, as lágrimas dão lugar à um riso contido que me desobedece e faz barulho por aqui.
Então... prendo esse barulho no baú da esperança e em preces suplico que num futuro próximo ou distante, possamos relembrar as caveiras desdentadas que já nos sorriu.

E as bolhas voaram... mas logo viraram respingos.

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