Fama


Essa fama de mulher carioca.
Ah, essa fama!
"Carioca é tudo vagabunda, é só piscar o olho e já leva pra cama."
Ah, a cama!
Se carioca deita é porque tem coragem.
Ô se tem!
Coragem de encarar o amanhã.
Coragem de levar um pé na bunda pela manhã.
E olhe pro relógio! O dia ainda nem nasceu!
Por isso te digo meu irmão...
Essa fama de carioca.
Ah, essa fama!
Não procede não.
A gente toca o terror quando precisa.
Pica a mula quando a chapa esquenta.
Esquenta na chapa o pão dos meninos.
Dá nó na corda quando ela arrebenta.
Carioca tem amor pra dar e vender.
Principalmente quando o salário atrasa.
Volta do trabalho esbaforida, cabelo pro alto, doida pra chegar em casa.
Casa.
É lá que a transformação acontece.
Arrumada, vira mulher, amante, homem ou piriguete.
A carioca rouba a noite, rouba beijo, rouba a cena.
Faz quadradinho e borboleta ter mais repercussão que um poema.
E é por isso.
É por isso que carioca leva a fama.
Porque não faz cu doce e deita mesmo na cama.
Ah, a cama.
Triste?
Triste é não poder rir até mais tarde.
Pior é segurar a onda, quando se tem vontade.
E vontade... ah, a vontade.
É pecado quando se deixa passar.
Carioca é "fim de linha, é lenha, é fogo é foda".
Carioca é pássaro, que se não voar sufoca.
É claro que não são todas assim.
E nesse grupo de moças de boa família não me encaixo.
Comigo o buraco é mais embaixo.
Eu prefiro ser taxada de tudo à fazer as coisas por trás.
E esse papo de por trás...
Ah, esse papo.
Aí são outros quinhentos.

Um comentário:

Conta pra mim, não conto pra ninguém...