Ana foi a mulher mais feia e mais sensacional que já tive.
Pra ela, tudo era motivo de tirar a roupa.
Aumento de salário, aniversário da tia-avó, compras de mês, time que ganhou o campeonato.
O dente que lhe faltava era preenchido com sorriso largo.
Meu dedo sempre a apontava.
Tudo era bom até encarar o espelho.
O dente logo virou pedra no sapato. Desistiu de ficar nua. Cansou de me envolver em suas comemorações descabidas.
Deprimida, arrumou as trouxas e trancou o portão pra nunca mais.
Dia desses me disseram que Ana perdeu o dente da frente numa queda, mas levantou e morreu de rir nos braços de Jaime, dono daquele boteco fuleiro no Catete.
No quintal abandonado, encontrei um bilhete cheio de terra, grama e garrancho inconfundível.
Li.
Senti cheiro de perfume barato.
Encarei o espelho pela primeira vez.
O dedo apontou na minha cara.
O feio da Ana era eu.
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